Faça sua própria resistência, vale a pena!

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Vaporaqui
 
 
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Faça sua própria resistência, vale a pena!

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Fazer sua própria resistência é uma maneira de controlar melhor sua experiência no vapor, além de ser um hobby praticamente terapêutico e de quebra você economiza e dá mais longevidade ao seu setup.

Mas tudo isso requer um pouco mais de conhecimento, não apenas para ter um resultado satisfatório, mas também pela questão da segurança, extremamente importante nos ecigs.

Por que entender do assunto?
Se você já está a mais de 24 horas no vapor já deve ter ouvido falar dos termos AWG, resistivo, níquel, kanthal, resistência, RBA entre outros siglas e termos técnicos. Pois este artigo vem trazer alguma luz sobre tudo isso e com um pouco de sorte, ao final você estará apto a fazer suas próprias resistências.

A maioria dos atomizadores de hoje em dia (os tanques onde você coloca o líquido que vai consumir) permitem que você refaça as resistências, utilizando a chamada base RBA (de Rebuildable Atomizer ou Atomizador Reconstrutível) que é uma peça que permite a utilização de uma resistência feita pelo próprio usuário. Isso quer dizer que ao invés de comprar as resistências prontas, que podem sair de R$ 80,00 até R$ 130,00 para um pack de 5 unidades (preço médio na data deste artigo e dependendo do modelo e fornecedor) onde cada unidade pode durar de 10 a 30 dias, dependendo de seus hábitos de consumo, você pode comprar apenas o fio e o algodão e montar você mesmo, ambos materiais bem baratos.

Além da vantagem do preço, é um hobby quase terapêutico para quem gosta de trabalhos manuais, você controla melhor a sua experiência com o vapor e ainda possui uma disponibilidade maior no mercado, pois fios e algodão são muito mais fáceis de obter do que resistências manufaturadas na china que podem não estar disponíveis para compra.

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Base RBA com resistência e algodão montados

Mas para isso, é preciso saber o que está fazendo e a única forma segura de saber o que se está fazendo é estudando e aprendendo, mas não se preocupe, é bem simples e fácil.

Este guia vai tratar dos fios e materias usados para se montar o seu chamado “setup”. À partir daqui vou usar mais os termo COIL para me referir ao fio de metal enrolado que forma a resistência.

AWG? SWG? WTF?
Começamos falando sobre o termo AWG que refere-se a American Wire Gauge, que é uma medida padronizada para fios e cabos elétricos em geral (não apenas para ecigs). A faixa mais comumente utilizada nos ecigs é a de 26 AWG (0,40mm) até 32 AWG (0,20mm), mas podem ser usados outros. É basicamente o tamanho da bitola do fio, mais fino ou mais grosso.

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Tabela de AWG e seus diâmetros em milímetros e na comparação
com SWG (Standard Wire Gauge) que é muito menos usado


Resistência vs AWG (diâmetro do fio)
Ok, mas o que muda de um diâmetro para o outro?

Muitas pessoas acabam tendo dúvidas na relação entre fios / resistência, que nos obriga a conhecer a Lei de Ohms e nem todo mundo tem uma memória boa o suficiente para lembrar o que estudou no 2º grau, então quando eu estava aprendendo sobre o vapor acabei adotando uma comparação que facilitou muito o meu entendimento.

Ao invés de pensarmos em eletricidade, pensaremos em água e ao invés de pensarmos em fios e metais, pensaremos em mangueiras.

Vamos imaginar que temos 3 mangueiras.

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Mangueira curta e fina

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Mangueira longa e grossa

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Mangueira longa e fina

Vamos dizer que a resistência é a dificuldade imposta pela mangueira para fazer com que a água vá da torneira até a saída e encha um balde. Quanto maior a resistência, mais tempo eu vou levar para encher o balde, quanto menor a resistência, a água passará mais fácil e o balde encherá mais rápido. Lembrando que aqui não temos diferença de pressão, a força com que a água passa é a mesma, ela não é relevante ao nosso pensamento.

Uma mangueira grossa oferecerá pouca resistência, pois terá muito espaço interno para a água passar, mas se ela for muito longa (muitas voltas) acabará equilibrando esse fator aumentando a resistência.

Uma mangueira fina já possui uma resistência maior, pois menos água passa por ela, mas se ela for curta, também equilibrará este fator, enchendo o balde tão rápido quanto uma mangueira grossa, porém muito longa.

Se a nossa mangueira é grossa demais, ou seja, com resistência muito baixa, é fácil passar água, mas queremos uma maior resistência, como a aumentamos sem trocar o diâmetro da mangueira? Aumentamos o comprimento, fazendo com que a água tenha que percorrer um caminho mais longo, que apesar de largo, fará com que a água demore mais para passar por todo o trajeto.

Se a nossa mangueira é muito fina, ou seja, com resistência muito alta, a água passa com dificuldade, então como diminuímos a resistência sem trocar a mangueira para um diâmetro maior? Tornamos a mangueira mais curta, menos caminho a percorrer, menos resistência até chegar ao balde.

Um exemplo prático

Digamos que eu pegue um fio resistivo como o Kanthal de tamanho AWG 32, ou seja, possui diâmetro de 0.20mm, que é um tamanho fino comparativamente com outros mais utilizados. Se eu quero atingir uma resistência de 2 omhs, que é uma resistência relativamente alta, eu preciso de um fio de 4.4cm ou fazer apenas 4 voltas com 3 mm de diâmetro, já que o fio é tão fino que oferece bastante resistência.

Agora se eu pegar um outro fio Kanthal, porém sendo AWG 26, ou seja com 0.40mm de diâmetro (dobramos o diâmetro), para eu atingir os mesmos 2 ohms eu preciso de impressionantes 17.7cm ou 14 voltas (mais do que o triplo) nos mesmos 3mm de diâmetro.

Não ficou mais fácil de entender?

Controle de temperatura: Níquel, Titânio e Aço Inoxidável
Mas não só de Kanthal vive o vaper, com o advento do controle de temperatura nos mods mais novos temos hoje outros 3 tipos de materiais sendo utilizados: o níquel, o titânio e o aço inoxidável, todos eles para serem usados com controle de temperatura (exceto o aço inoxidável que serve nos dois).

Um resumo sobre o controle de temperatura: cada fio possui características que tornam possível relacionar sua temperatura de acordo com a resistência medida do metal. É quase como dizer que se for medida em um fio de níquel uma variação de 0,010 ohms é porque ele aumentou 100 graus (os números são apenas para exemplo). À partir dai posso medir a resistência em tempo real e determinar sua temperatura. Os aparelhos com o chamado TC (temperature control) fazem exatamente isso e assim podem determinar (e controlar ou pelo menos limitar) a temperatura aproximada que a coil está, não deixando ela passar de um determinado valor setado no aparelho.

A grande vantagem (e o motivo do controle de temperatura ter sido inventado) é que controlando a temperatura, impedimos que os fios ultrapassem valores seguros e possam produzir algum componente químico cancerígeno ou prejudicial.

A produção destes componentes é perfeitamente possível caso (e apenas se) os metais ultrapassarem determinadas temperaturas, porém mesmo sem o controle de temperatura é muito difícil disso acontecer, pois são temperaturas tão altas que mesmo querendo você provavelmente não vai conseguir chegar nelas, porém apenas com o controle de temperatura é que podemos ter certeza que isso não vai acontecer.

Vale lembrar que os fios citados são bem poucos resistivos, ou seja, vamos trabalhar sempre com uma resistência bem baixa, só sendo indicado o uso em aparelhos com controle de temperatura, pois EXISTE RISCO DE ACIDENTES NO MODO NORMAL e pior ainda em aparelhos mecânicos ou não regulados.

Kanthal
Assim como falamos “Chicletes” quando na verdade deveríamos falar “goma de mascar” e “Bombril” quando o correto é “palha de aço”, aqui a marca se confunde com o produto.

Kanthal é a mais conhecida marca que produz ligas metálicas baseadas em Fe (Ferro), Cr (Crômio) e Al (Alumínio) dai seu nome comumente usado de FeCrAl para identificar o produto.

Alguns acabam chamando também de “Kanthal” a liga Nichrome ou Nicrômio que como o próprio nome já diz, é composto por Níquel e Crômio porque ambos os fios possuem características muito similares, apesar de composições diferentes.

Foi o segundo fio utilizado nos ecigs. Ele é considerado relativamente seguro, porém é preciso lembrar da presença do crômio. É um material que pode produzir compostos cancerígenos, mas apenas se você deixar a coil incandescente por longos períodos, é por isso que é sugerido trocar não apenas o algodão, mas todo o conjunto após um determinado período de utilização.

Devido às suas propriedades, não é possível utilizar no modo de controle de temperatura, sendo necessário usá-lo em modo “power” nos dispositivos regulados.

É também o material indicado para utilização em dispositivos não regulados ou mecânicos.

Níquel
O níquel é um metal bem maleável, que pode fazer com que você acabe optando por lidar com fios mais grossos para facilitar seu manuseio (fios muito finos são chatos de setar). Eu particularmente gosto muito do AWG 26 com aproximadamente 0,40mm, ele é grosso o suficiente para ser bom de manusear, mas não grosso demais a ponto de impedir que possa ser cortado com uma tesoura simples, que você usa para cortar o algodão por exemplo, sem risco de danificar a tesoura.

Este foi sempre a principal reclamação sobre o material, seu manuseio.

Quando iniciou-se o uso do níquel algumas questões foram levantadas. Praticamente todos os problemas foram descartados, pois derretimento do material, contaminação do metal no vapor e produção de monóxido de carbono, são questões que dependem de temperaturas muito altas que os aparelhos não são capazes de produzir (até o momento pelo menos), restando a preocupação apenas em relação a alergia ao níquel.

É estimado que 10% a 20% da população mundial pode ser sensível ao níquel, em jóias por exemplo algumas marcas colocam avisos de “100% livre de níquel” em seus produtos, porém muitas pessoas alérgicas relataram não sentir nada ao vaporar usando níquel, enquanto outras relataram garganta irritada ou uma espécie de coceira. No geral, se você é alérgico ao níquel, não use para vaporar.

De resto, ainda não foi identificado nenhum problema ao utilizar o metal para vaporar, sendo seguro desde que usado corretamente, isso quer dizer NUNCA deixe o fio incandescente (alaranjado) pois você poderá atingir temperaturas que vão criar compostos nocivos para você.

Titânio
O titânio foi adotado logo após o níquel. É uma alternativa interessante por ser mais fácil de trabalhar do que o níquel, sendo mais firme. Logo após a descoberta do uso do titânio no vapor, várias preocupações surgiram, sendo duas delas de longe as mais graves:

1) Titânio puro pode pegar fogo, um fogo que nenhum extintor comum vai conseguir apagar, sendo necessário um extintor classe D que praticamente ninguém tem em casa.

2) A criação de dióxido de titânio, extremamente prejudicial se inalado, que é um pó branco formado em cima da coil.

Preocupado? Não fique, em ambos os casos é mais ou menos como dizer para você não ter um fogão em casa porque se você deixar as 6 bocas abertas sem chama vazando gás sua casa pode explodir. Desde que você não faça uma besteira enorme, você estará bem.

Ambas as situações só ocorrem se você aquecer a coil ao ponto de torná-la incandescente, alaranjada.

Se você não fizer isso com o titânio, não terá problemas. Isso porque tanto o fogo eterno do Amaterasu quanto o pó branco mortal são criados lá pelos 600º e seu aparelho com controle de temperatura só vai conseguir chegar a uns 300º, 350º no máximo. O problema é que se você usar este fio no modo “power” e fizer ele ficar incandescente (conhecido como dry burn ou queima seca), ai sim poderá atingir e passar desta temperatura.

Aço inoxidável (também conhecido por Stainless Steel ou a sigla SS)
Atualmente considerada a alternativa mais segura, usado em procedimentos médicos por anos, achou recentemente seu caminho para o vapor.

Possui um ponto de derretimento em torno de 1300º, tendo traços de níquel em sua composição que por sua vez também tem um ponto alto necessário para contaminação de aproximadamente 1200º, ou seja, você não conseguirá atingir estas temperaturas portanto não terá problemas com o material.

A vantagem do fio é que por ter uma quantidade de níquel suficiente em sua composição pode ser usado tanto no modo “power” quanto no modo de controle de temperatura.

O único problema é que é um material meio duro de se manusear.

Ele é encontrado em algumas variações de tipo como SS304, SS316, SS316L tendo pouquíssima diferença entre eles, porém considera-se o SS304 um pouco mais sensível à mudanças de temperatura, sendo mais indicado para controle de temperatura, porém qualquer um dos tipos pode ser usado tanto em controle de temperatura quanto modo power.

O que você precisa para começar a montar suas resistências
Ok, aprendemos sobre os fios, agora vamos à lista de compras. Para montar suas resistências você precisará de:

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Um atomizador que possua uma base reconstrutível como Uwell Crown, TFV4 normal ou mini, Subtank mini, Subtank Plus, Lemo1, Lemo 2, Cthulu e tantos outros modelos disponíveis no mercado.

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Escolha o fio. Pode ser kanthal para usar em modo power ou níquel, titânio ou aço inoxidável para usar em modo de controle de temperatura (este último também serve no modo power). Na dúvida, compre vários. É importante também escolher sua grossura. Sugerimos abaixo:
  • Kanthal – AWG 26 (0.40mm), 28 (0.32mm) e 30 (0.25mm).
  • Níquel – AWG 26 (0.40mm)
  • Titânio – AWG 24 (0.51mm) para single coil e AWG 26 (0.40mm) para dual coil.
  • Aço Inox – AWG 24 (0.51mm) e AWG 26 (0.40mm).
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Algodão, de preferência japonês orgânico, mas aquele de farmácia hidrófilo também serve, apesar de que eu sinto diferença no sabor e prefiro o orgânico. Temos um artigo que trata dos diferentes tipos de algodão, para dar uma olhada nele clique aqui.

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Acessórios para facilitar sua vida como tesoura, alicate de ponta fina, pinça de cerâmica, entre outros. Existem muitos acessórios vapers que ajudam e muito na hora de fazer suas resistências, como ohmímetro, kuro coils, mas nada disso é obrigatório, apenas facilita.

A hora de por a mão na massa
Seria muito difícil escrever sobre o processo todo, portanto confira abaixo nosso guia em vídeo:

https://youtu.be/7-jp0fiJfxM

Problemas que você pode encontrar

Dry Hits: Quando o algodão não está devidamente molhado com o líquido e você acaba sentindo um forte gosto de queimado. Isso pode ocorrer por vários motivos, sendo alguns deles quantidade errada de algodão (muito ou pouco), mau posicionamento do algodão, necessidade de troca do material, potência muito alta além do que o setup consegue lidar, líquido muito viscoso. Se baixando a potência não funcionar, refaça o algodão. Usando o controle de temperatura este problema é praticamente resolvido pois um dos mecanismos de proteção dos aparelhos é não funcionar com a coil seca.
Curtos: Quando a resistência está encostando em alguma parte interna da base ou metal do atomizador, fechando curto. Quanto usado em mods regulados ele não vai acionar, dando erro e alertando para que você verifique sua resistência. É um grave problema para mods não regulados ou mecânicos, quando o curto pode causar acidentes, vazamento da bateria e até explosões. Por isso é indicado sempre verificar se o seu atomizador está corretamente setado usando um ohmímetro ou ainda um mod regulado, para só então conectá-lo em um mod não regulado. Ao verificar curto, confira sua resistência e certifique-se que ela não está encostando em nenhuma parte interna da base do atomizador, se necessário faça tudo de novo.
Spit back: É quando você sente o líquido subindo pela chaminé do atomizador, sentindo o líquido na boca. Isso pode ocorrer por mau posicionamento do algodão, excesso de algodão, excesso de líquido no algodão (o que pode acabar com o spit back após algumas vaporadas) ou até um defeito no atomizador. Quando isso acontecer e não parar após algum tempo, é sugerido recolocar o algodão.
Gunk: É a “gosma” que fica sobre a coil (resistência) formada após um determinado tempo de uso principalmente por resquícios de juices doces. Pode acabar resultando em dryhits pois diminui a capacidade da coil e do algodão de absorver o líquido, pode também contaminar um novo sabor com o sabor anterior, entre outras coisas. Sugere-se na hora da troca do algodão fazer um dry burn (queima seca) até tirar todos os resquícios do crosta de juice do metal, mas como os fios são baratos, é sugestão trocar tudo a cada semana.

Conclusão
Fazer suas próprias resistência pode não ser para todos. É preciso entender do assunto, ter disposição para aprender e realizar um trabalho manual metódico e delicado. Para muitos é um hobby, para outros, desnecessário.

Qualquer que seja o seu gosto, agora você conhece mais do assunto e pode decidir se fará ou não suas próprias resistências.
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